O fim do Vídeo Show, exibido na Rede Globo desde 1983, diz um pouco sobre mudanças que a TV brasileira vem passando pós-internet e redes sociais. Os bastidores do Projac, novidades do meio artístico e opiniões dos famosos agora circulam em publicações das próprias celebridades. As transformações também são importantes para entender o Se joga, atração desenvolvida para substituir o clássico no horário vespertino, de segunda a sexta. A estreia será nesta segunda-feira (30), logo após o Jornal hoje. O programa é apresentado ao vivo pela pernambucana Fabiana Karla, a carioca Fernanda Gentil e o baiano Érico Brás com a proposta de unir informações quentes das redes, fofocas e humor, além de bate-papos e jogos com celebridades da casa. Tudo de uma forma “descontraída e leve”, como o trio e a diretora Daniela Gleiser repetiram diversas vezes durante uma coletiva de imprensa realizada no estúdio da atração em 20 de agosto.
Uma das principais palavras-chaves da novidade é “interatividade”. Além da plateia no estúdio, o público participa através do site oficial com votações, mensagens lidas ao vivo, versões online dos jogos e inscrições para participar do programa. No cenário, os apresentadores interagem com telas que simulam smartphones gigantes e também contam com uma “nuvem de palavras” que reúne os temas “on trending”. Os games com famosos são flexíveis, pois mudam de acordo com o convidado, que deve tocar em temas mais pessoais.
“Queremos ser tecnológicos, modernos, didáticos e com o português simples. Estamos investindo na linguagem e na interatividade das redes sociais, pois a tecnologia serve para encurtar a distância entre quem vê e quem faz TV”, pontua Fernanda Gentil, que mergulha no entretenimento após anos se dedicando ao jornalismo esportivo. “Fechei um ciclo muito importante, quando vivi um sonho todos os dias. Foi doloroso e delicado, mas sou movida a desafios. Apesar de já ser acostumada com apresentação ao vivo, isso aqui é completamente diferente de tudo o que fiz, sobretudo pelo tamanho da equipe. Estou curiosa e ansiosa.”
Fabiana Karla e Érico Brás não serão responsáveis pelos momentos da comédia, embora sejam conhecidos como humoristas. O gênero aparecerá com quadros gravados. Marcelo Adnet fica responsável por paródias (modalidade que domina bem) no The fake Brasil. Menos conhecido, Paulo Vieira grava esquetes sobre o próprio cotidiano em Isso é muito a minha vida, e Jefferson Schroeder interpreta a personagem Cida Lamounier, dona de casa que sabe de tudo um pouco. “Estamos desativando um pouco o nosso lado do humor e deixando esses comediantes terem o destaque deles”, explica Fabiana.
“Acredito que é a hora de ativar mais nosso lado comunicador”, continua a pernambucana. “Todos nós temos um humor particular, claro, mas a apresentação era um desejo natural. Eu fazia vergonha quando ia nos programas dos outros. Fui no É de casa e ventilei para o diretor: ‘Se tiver que cobrir as férias de alguém, estou aqui’. Até que alguém me deu a oportunidade”, diz, com sua habitual irreverência. Sobre o formato ao vivo, Érico ressalta que a experiência no teatro ajudou. “O nervosismo do primeiro dia é igual ao de estreia em peças, mas depois flui. A relação da equipe me dá segurança. Além disso, a internet é como um eterno ao vivo, que fazemos a todo momento e sem vergonha”, diz Brás
A diretora Daniela Gleiser afirma que o perfil do programa foi feito de acordo com a demanda dos próprios telespectadores, com pesquisas feitas pela Globo. Nessa busca pela audiência, a emissora tem concorrências relevantes no horário vespertino, como o Fofocalizando, do SBT, e o Brasil urgente, da Band. A abordagem de fofocas em Se joga pode até ser lida como tentativa de competir com a atração do SBT, mas as linguagens – previsivelmente – possuem diferenças. “Não temos muitos pré-requisitos para as fofocas. Havendo interesse do público, vamos falar. Sem excluir a Globo, pois muita coisa acontece aqui dentro”, admite Gentil. “A palavra ‘fofoca’ tem um viés negativo, mas vão existir limites que serão colocados por nós e pelas próprias celebridades. Afinal, esse programa também deve ser refúgio dos famosos.”
Fernanda também preferiu tomar a fala sobre a concorrência: “Vivemos uma época de fake news e caça-cliques. Queremos fugir disso como uma quebra de protocolo. Nós, obviamente, sabemos o que é feito no horário, mas não queremos guerra, adversários ou inimigos. No final, quem ganha é o telespectador com a pluralidade de programas.”
Outro aspecto que pode não ser imediatamente perceptível, mas que conta bastante, é a pluralidade do trio de apresentadores. Fabiana Karla residiu no bairro da Estância, Zona Oeste do Recife, e sempre foi conhecida por imprimir um humor com ares nordestinos. Érico Brás é baiano, negro e em nenhum momento tenta diminuir seu sotaque soteropolitano. “As pessoas dizem que se sentem representadas e isso não tem preço”, diz Karla. “Acabamos formando uma ginga gostosa.”